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quinta-feira, 11 de julho de 2019

Olha bem, nada aqui sobra:
Nem o feijão, nem o leite,
Nem as plantas no jardim,
Tudo é tão seco, faltante,
Tudo é uma busca sem fim.

sábado, 18 de agosto de 2018

Hoje assisti Morangos Silvestres e vi um vídeo de um pianista tocando pra um elefante de 80 anos.
Estou um pouco impactado.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Paradjanov

A alma do poeta
caderno manchado
sangue na adaga
tormento.
Coroa de espinhos
    Poeira de estrelas
    nas narinas do Tempo.
Segredos em voz alta
  Poesia secreta
  Escada celeste
  Telhado poético.
Passos virgens
Lavama a passarela
             mundana.
Tapete voador
Disco galático
Galinha de sangue.
           degolada.
      Heresia cantada.
Baluarte metafísico
      guardando pensamentos
      Longe da esquina do mundo.
Olhar perdido
      no dilúvio infantil
          do banho lácteo.
Violas voadoras
      do trovador mudo
         sangrando silêncio.
O Anjo de Ouro
gira inquieto
na Montanha Sagrada
   do Ancestral Coro.
Borra de café
    transfigurando
textos milenares.
A Deusa Hindu pede graças
   chorando tristezas
        de ouro no
          Templo Templário
        Invocando
           o Beijo do Pavão.

Sábado, 24/03/2018
durante a aula de Pintura e Cinema

Quintas, das 19h às 22h30 #1

Teto de pipoca
Grade verticalizada
A Revolução será televisionada.
Delírio audiovisual
Dúzias de roupagens
no guarda-roupa das massas.
O que eu quero? -
pergunta a ovelha.
Vinte anos de teoria
não escreveriam dois livros
Uma população de moscas
na teia da Grande Aranha Midiática
(escravizada, na senzala universitária)
Onde está a Po-e-si-a?
Na Área-Norte, onde jaz o dinheiro
A Casa Grande é exata, quadrada.
Estou fora-de-linha: descarrilado
Não cabem muitas seringas
em meu quadradinho brilhante de bolso.
Esgoto em fluxo contínuo
vazando dos dutos e canos
são um oferecimento dos nossos
anunciantes.
Lixo requentado
preenchendo o vazio contemporâneo
E que vazias são as ovelhas
e o gado, e os bodes, e as cabras.

Quintas, das 19h às 22h30 #2

Marília desenha mandalas.
Anna mexe no celular.
Dani pede meu storyboard.
Beatriz mexe no cabelo.
A professora fala...
Otsuka olha o notebook.
Eustáquio mexe no texto.
A professora fala...
Está calor
Três pessoas chegam, atrasadas
A aula segue
A professora fala...
Fala...
Fala...
(Ela ainda fala)

segunda-feira, 19 de março de 2018

Brakhage

    Grãos de prata
na praia do Tempo.
 Asas soltas
       voando no quadro
                 das luzes.
  Seis anos
         no inferno de Dante
      Galáxias de tinta
      explodindo
                 na janela.
          Eclipse forjado
                Purgatório de
                             estrelas
         Singularidade
              na dimensão
                       artística.
            Pulsar abstrato
                  Big-Bang
                         na película.


Sábado, 17/03/2018
durante a aula de Pintura e Cinema

segunda-feira, 12 de março de 2018

Assistindo At Land

Eternas ondas
Eterna violência
Gaivotas no céu cinza
Gaivotas no seu cinza
Fumaça nos lustres
Selva de almeirão
Ventilador de praia
Astigmatismo reverso
Urubus da meia-noite
Confusão astral
Arredondamento litográfico
Caatinga caribenha
Tempo esfarelado
O Fantasma da colheita
Coordenação pluvial
O Cemitério das rochas
Deserto aquático
A coletora de seixos
Prisão temporal.

Sábado, 10/03/2018
durante a aula de Pintura e Cinema

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Pro meu desalento
Cada fim de ano enferruja
A mola do Tempo.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

"Toma então este Ulysses. É teu. Ficou dez anos comigo e agora eu me despeço dele."

Essas são as primeiras palavras da nota do tradutor, Caetano Galindo. Não sei o que me deu na cabeça de topar a Odisseia que promete ser o livro de James Joyce. Acho que depois da longa guerra de quase cinco anos que travei com O Pêndulo de Foucault até vencê-lo sinto que posso ler qualquer coisa (e se eu vencer essa vou acabar tendo certeza). Coisa como 1100 páginas. Uma conta rápida, besta e se eu ler 10 páginas por dia termino a leitura em pouco menos de 4 meses.

Hoje terminei a 268.

Estou adiantado.

sábado, 29 de julho de 2017

Sequestrados por Tom Cruise

Subimos a rua Cândido Padim numa noite escura, uma Cândido Padim diferente, mais larga, inteira de casinhas antigas de muro baixo e com jardins e árvores, estilo “casinha da vovó”. Há alguém nervoso no grupo. Em certo ponto, quando passamos por um caminhão estacionado, alguém nos aborda, alguém armado: é Tom Cruise.

A pessoa nervosa do grupo é Mark Wahlberg, que puxa uma faca, mas é imediatamente baleado por Cruise, que nos sequestra para fazer algum trabalho sujo para ele – que no sonho é uma espécie de bandidão muito bem treinado, como no filme "Colateral", mas que parece estar fugindo, sempre preocupado e usando camisa e calça preta.

A certa altura, Jamie Fox (que estava conosco desde o início e é o medroso do bando) diz “Pelo amor de Deus, vamos ao Estádio Municipal agora, por favor.” Tom Cruise fica bravo com ele e diz “Agora vocês vão fazer algo num lugar muito bem vigiado.” Chegamos a um enorme galpão, que ocupa quase um quarteirão inteiro, aparentemente construído há pouquíssimo tempo. Esse galpão fica quase um metro acima do nível da calçada para carga e descarga de caminhões e algumas rampas ajudam a chegar dentro dele a pé. Há alguns carros estacionados do lado de fora e é atrás deles que nos escondemos ao chegarmos abaixados perto da porta do lugar, que está aberta. Tom nos manda ficarmos abaixados.

Olho dentro do lugar e alguns caras com roupas pretas no estilo SWAT e fortemente armados estão carregando um caminhão com algo que eu não sei o que é. Um dos sequestrados sai de trás do carro e Tom fica puto, o manda voltar, mas não pode falar alto então ele grita cochichando: “Ei! Volta aqui! Volta aqui, seu idiota! Eles vão nos ver!”, mas o que acontece na verdade é que um tiozinho aleatório que passava na rua nos vê, sai correndo – acho que para avisar alguém – e Tom manda alguém ir atrás dele, mas a confusão chama a atenção de um dos caras armados e começa um tiroteio. É aí que eu acordo.